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“Suas flechas não atingem o alvo”, observou o mestre, “porque espiritualmente não percorrem grandes distâncias. Comportem-se como se o alvo estivesse a uma distância infinita. Para nós, mestres-arqueiros, é um fato conhecido e comprovado pela experiência cotidiana que um bom arqueiro, com um arco de potência média, é capaz de um tiro mais longo do que um outro, empunhando um arco mais potente, mas carente de espiritualidade. Logo, o tiro não depende do arco, mas da presença de espírito, da vivacidade e da atenção com que é manejado. Mas, para desencadear uma maior tensão nessa vigília espiritual, os senhores devem executar a cerimônia de  maneira diferente da que vem sendo feita até agora, mais ou menos como dança um verdadeiro dançarino. Assim o fazendo, os movimentos dos seus membros partirão daquele centro do qual surge a verdadeira respiração. Então, a cerimônia, ao invés de desenvolver-se como uma coisa aprendida de cor, parecerá criada segundo a inspiração do momento, de tal maneira que dança e dançarino sejam uma única e mesma coisa. Se os senhores se entregarem à cerimônia como se se tratasse de uma dança ritual, sua lucidez espiritual atingirá o ponto máximo.”

 

A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen  de Egen Herrigel

Núcleo de Caos

O Núcleo de Caos é um desdobramento específico para a pesquisa da Caos Butoh dentro do Aum, núcleo de pesquisa indisciplinar e de intervenção no espaço público, que desde 2002 desenvolve ações críticas em espaços entre SP e BA, e agora também no RJ e em BH.

 

O Núcleo de Caos surge das vivencias em Caos Butoh guiadas por Glaucus Noia (Aum) mensalmente pelas ruas do rio, em seu ateliê na Glória e em cachoeiras do Horto em 2015 e segue com os processos entre Bahia, Rio, SP e BH nas propostas de Mogli, Marcelino Bessa, Andressa Zanette e Glaucus. A Caos tem como processo a pesquisa do corpo como corpo liminar, e a partir dessa qualidade de indiscernibilidade a possibilidade de eclosão do movimento disruptivo em dança, e a disponibilidade a devires. Outros Corpos (sem órgãos) por outros espaços (sem lugar) por outras danças.

 

Vivências Rituais com argila selando por horas os sentidos cotidianos, vivencias às cegas em meio ao tumulto urbano, processos de rompimento das barreiras do medo, do tédio e das expectativas e frustrações, e a quebra das camadas cristalizadas em ressentimentos, preconceitos ou caprichos. Estudos em biopolítica, filosofia, antropologia permeados por poesia, alquimias e práxis animistas ou xamanicas conjuradas para compor uma Egregora imanente. Ou como conceituou o pesquisador Nelson Job, O Intensar; a anarco epistemontologia.  (leia o texto conceitual de Nelson Job a partir de performances de Caos no link abaixo) 

 

Glaucus Noia

Desenvolvo a Caos Dança  desde 2008, e atualmente ela recebe o Butoh (Caos Butoh) no nome após perceber, nos anos de pesquisa conjunta e conversas com o mestre Butoh, Gyohei Zaitsu (JP/FR), o quanto a Caos e o Butoh se encontram nas bases e präticas.

segundo Gyohei, não se trata de um Butoh, mas de Butohs, e a Caos seria o meu Butoh.

 

Atualmente a Caos Butoh é pesquisada e desenvolvida em parceria com os caos butocas Mogli, Marcelino Bessa e alguns convidados para performances do Núcleo de Caos. 

 

Eu vivo atualmente entre São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro. continuo minhas pesquisas, guio vivências e apresento meus processos rituais em performance solo ou com o Núcleo.

 

Glaucus Noia, 36, é diletante. ilustrador, artista plastico, poeta e performer.

Fundou, em SP, co-dirige e coreografa há 15 anos as ações do AUM, núcleo de pesquisa indisciplinar e de intervenção crítica no espaço público.

Em 2008 inicia o processo de pesquisa do corpo em movimento que culmina no desenvolvimento da Caos Dança.

Em 2010 iniciou as vivencias do corpo disruptivo em Caos Dança na Casa Jaya em SP.

Participou de workshops com o coreógrafo e dançarino Daniel Lepkoff (USA), um dos criadores do Contato Improvisação; com o performer Olivier de Sagazan (FR); workshop de expansão da percepção do corpo energético com o artista plástico visionário Alex Grey (USA); e Workshop de dança Butoh com Allain Alberganti (FR). Desenvolveu por 3 anos a pesquisa em dança Butoh com o mestre Gyohei Zaitsu (JP) e parceria criativa com a coreógrafa e dançarina Sonja Heller (DE) ha mais de 5 anos. Colaborou no desenvolvimento da peça de teatro físico “O mundo é ilegível, meu corpo sim” em que também atuou, com a companhia francesa I-Rictus.

em agosto de 2013

participa como convidado do Corpo Palavra. série de encontros em que dois artistas que usam o corpo e as palavras como suporte se encontram para falar de seus processos. mediação da dançarina e coreógrafa Aline Bernardi.  
 recentemente desenvolveu um processo de pesquisa com o Nucleo cinematográfico de dança (SP). 
Em 2014 fez uma temporada de apresentações da Caos em sua exposição individual na galeria Maria Tereza Vieira no centro do Rio de Janeiro, com curadoria de André Dahmer.
em 2015 o núcleo de Caos apresenta uma temporada em 5 apresentações de Ignis Innaturalis - Auto Imolação, no espaço Publico no Bairro da Glória no RJ. a peça foi acompanhada por pesquisadorxs do CTRL+ALT+DANÇA. os textos produzidos pelos pesquisadores podem ser lidos na pagina anexos aqui do Site. 
em 2016 Glaucus e Andressa apresentaram em março e abril uma temporada com a peça Mal-Estar em Jakarta - rito biopolítico, nas ruínas de um casarão centenário no Rio de Janeiro. Glaucus dançando corpos e Andressa dançando atmosferas sonoras.
em outubro, o nucleo foi convidado a apresentar uma performance baseada na peça no festival Diálogos Sobre o Feminino. dessa vez com Mogli no som e Glaucus no corpo.
 
sua trajetória completa de corpo e performance
pode ser acessada

Caos Butoh

 

 

 

A Caos Butoh é a busca por devir o caospontâneo de fluxos   velocidades em deslocamento ou não. nuvem fogo saco plástico ao vento. vento. galho na chuva. pluma de vôo. ir do sutil ao vigoroso súbito; do extremamente lento ao chicote, num ímpeto, sem me dar conta. passar de um ao outro, compreender onde se encontram, para o que se perdem. dança liminaridade. ser rabo de gato. fio de fumaça. tinta na água. o mais próximo disso possível.., ou, ao menos, o mais distante de mim nessa direção.

 

as pesquisas dessas vivências tem bastante ressonancia com a questão da liminaridade. 

 

fora das caixas do discurso e sua paleta representativa, as coisas ousam dissoluções e permeabilidades indizíveis. os limites talvez sejam um marco médio desse permear-se mutuamente, mais que uma divisão exata identitária. 

 

os limites entre as coisas talvez não estejam entre, mas NAS coisas, num gradiente de atravessamentos. em minha dança eu realmente não consigo apontar com exatidão onde as coisas começam e terminam em relação.

 

como dar um nome fechado de performance a isso que não acontece somente no campo da arte, nem do corpo, ou chamar ritual ou outro nome unico qualquer, se em sua acontecência tudo se ultrapassa e permeia gerando superficies de absoluta indicernibilidade?

 

“Se falta enxofre à nossa vida, quer dizer, se lhe falta uma magia constante, é porque nos apraz contemplar nossos atos e nos perdermos em considerações sobre as formas sonhadas de nossos atos, ao invés de sermos impulsionados por eles.“

(Artaud, o teatro e seu duplo, p17.)

 

é arte? é dança? é teatro? é magia? é ativismo?

sim. talvez. mas com certeza -e necessariamente, ou foda-se-  que seja vida! mas claro que não qualquer vida -ideal humanista- mas vida em potencia, pulsante. máquinaria desejante!

 

A Caos Butoh é uma prática de vida. Ética e estética. A construção de uma vida que contemple possibilidades de existência que estão excluídas da conceituação comum de realidade em sua corroboração com uma sintaxe civilizada ocidental. Não apenas uma prática física. Propomos uma metanoia radical, ressignificação total. O abandono das Suficientes Verdades em direção a multiplicidade. Instalar-se Heterotopia. Atentar a com quais mundos desenvolvo em ressonância e a que egrégora estes compõem. Habitar outras dimensões e ultrapassar o certo correto exato para embebedar-se no elixir das questões que impulsionem os infinitos desdobramentos e possibilidades criativas de forma a estimular nossa disponibilidade ao Devir. Não há inconsciência, mergulho louco no vazio do processo, (embora a racionalidade não seja dominante) mas certas consciências profundas da corporeidade em si aflorada e atuante.

 

ofertamos corpos inúteis!

util é o que tem seu fim em seus possíveis usos. o inutil existe por si.  se instaura para além dos significantes, dos significados e cronologias. não necessita marcadores e indicadores de produção que o valorem e valorizem.

 

não nos interessa a noção de verdade. ou de bondade. ou qualquer dualismo.

não nos interessam em nada noções momentâneas de validade e produtividade. Nos lançamos num furo que desaba devir. participação (como cartografa Lévy Bruhl). nos põe em ressonância com o incriado existente. não nos interessa promulgar verdades ou palavras de ordem. Mas gerar e fazer gerar potência nos íntimos. de cada um, um, dois, 3, cinco, oito, 13, mônada, malta, egrégora, multidão, espaço 

a etiqueta instantanea que se dá e se recebe no contato publico/obra não alcança os afetos e perceptos em jogo. muito menos a potência que têm essas forças. afetos - efeitos fortes que agem no expectador,

perceptos - a transformação (não necessariamente linear) que aquele afeto produz íntimamente em seu modo de perceber as coisas dali em diante.

 

A partir de referências de variadas fontes, pesquisar teórica e praticamente o “um corpo” possível aos espaços e os espaços possíveis ao “um corpo” sem mediações ou relações de autoridade ou funcionalidades agindo sobre ou relacionadas a eles para então nos lançarmos à exploração da liminaridade.

 

Questionar os “limites” de modo a romper distancias e gerar encontros. Lançar-se na busca de instrumentos para garimpar e cartografar, instaurar modos de combate aos poderes transcendentes que se apoderam da vida para destituí-la de sua potência, se não subversiva, desordeira, num regimento de medidas preventivas. E é esse um dos sequestros de que padecemos desde ha muito.

 

Mas antes de nos alterar a percepção de mundo, essa sintaxonomia nos deturpa a noção mesma de corporeidade e de existência, impondo catalogações para organizações biológicas. Nos recortando em partes ordenáveis. Assim nos passam a idéia de que “temos” um corpo junto a inúmeras noções identitárias essenciais. E é nesse processo que nos convencem de que meu corpo é compartimentado e utilitário, exatamente como –me dizem também- é a vida, tendo um comportamento e uma etiqueta específica para cada espaço e relação.Através dessa colonização , determinando limites e configurações, nos delimitam o Real, (no mundo, no corpo e no imaginário) e nos roubam uma das maiores riquezas da existência, que é o caráter de multiplicidade da realidade que nos abre aos multiplos Possíveis e Impossíveis infinitos.

(trecho do escrito "Caos Dança - Corpo Disruptivo: o corpo em movimento como prática mágica")

 

 

 

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